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Onde está a Mata da Onça?

Prof. João Paulo Viana Leite*

Apesar de mais de 500 anos de desmatamento, a Mata Atlântica ainda continua sendo um dos locais do planeta de maior diversidade biológica, mas até quando?

A Mata Atlântica é caracterizada como um bioma que abrange um conjunto de diversidade própria de plantas e animais, constituído pelo agrupamento de tipos aproximados de vegetação e que ao longo do tempo sofreram os mesmos processos de formação da paisagem. No caso da Mata Atlântica é característico a presença de florestas e de outros ecossistemas associados como manguezais, vegetações de restingas, campos de altitude. Paisagem esta que na época da chegada dos portugueses abrangia cerca de 1,3 milhão de Km2 estendendo em grande parte pela região costeira do Brasil. Sua presença que inicialmente se estendia por 17 estados do território brasileiro, hoje encontra-se reduzido a cerca de 13%, segundo dados do Ibama. Atualmente, se for levado em consideração apenas os fragmentos acima de 100 hectares, a Mata Atlântica encontra-se reduzida a cerca de apenas 8,5% de sua área original.

O reconhecimento internacional da importância da Mata Atlântica para o planeta foi reforçado, quando em 1988, o ecólogo britânico Norman Myers cunhou o termo “hotspot” (área quente de biodiversidade). Este conceito considera que aquelas regiões mais ricas em biodiversidade do planeta, com maior presença de espécies endêmicas (espécies encontradas exclusivamente em determinadas regiões) e que são consideradas extremamente ameaçadas, precisam de atenção prioritária para a conservação. A partir desse conceito, um conjunto internacional de especialistas selecionou 35 regiões do planeta consideradas como prioritária para conservação. Para se ter a dimensão da diversidade biológica, essas 35 regiões hotspots ocupam apenas 2,3% da superfície da Terra e mantêm mais da metade das espécies de plantas endêmicas e quase 43% das espécies de aves, mamíferos, répteis e anfíbios endêmicos do planeta. Dois biomas brasileiros participam desta lista, o Cerrado e a Mata Atlântica.

No caso da Mata Atlântica são cerca de 20.000 espécies de plantas, 850 espécies de aves, 370 de anfíbios, 200 de répteis, 270 de mamíferos e 350 de peixes. No entanto, a Mata Atlântica aparece como uma das florestas tropicais mais

ameaçadas do planeta, devido principalmente aos sucessivos ciclos econômicos que ocorreram nesta faixa territorial brasileira, como a exploração do pau Brasil no inicio da colonização, o plantio da cana de açúcar, a busca pelo ouro e outros minerais, a expansão da agropecuária e, atualmente, devido principalmente a expansão urbana. Segundo recente relatorio apresentado pela Fundação SOS Mata Atlântica, apenas 6,5% dos rios pertencentes ao bioma Mata Atlântica apresentam qualidade da água considerada boa e própria para o consumo, colocando em risco comunidades que vivem da pesca.

Ainda pouco conhecemos sobre o potencial farmacológico de várias plantas da Mata Atlântica, várias dessas tradicionalmente usadas para a cura de doenças por povos indígenas que também sofreram grande redução, chegando até mesmo a extinção de alguns desses. Pesquisas realizadas pelo grupo de Bioprospecção no Uso Sustentável da Biodiversidade (BIOPROS), da Universidade Federal de Viçosa, que vem investigando as propriedades químico-farmacológicas de espécies arbóreas nativas da Mata Atlântica desde o ano de 2007, demonstram que menos de 15% dessas espécies foram alvo de pesquisa farmacológica. Levando em consideração o número de espécies vegetais nativas desse bioma, teríamos cerca de 17.000 especies de plantas desconhecidas quanto ao seu potencial para a produção de medicamentos, cosméticos, alimentos, agroquímicos e outros bioprodutos de alto valor agregado.

Casos como da onça-pintada encontrada na Mata do Krambeck em Juiz de Fora circulando pelo centro urbano é exemplo do risco de extinção que vários animais que habitam o bioma Mata Atlântica estão correndo atualmente devido a destruição da floresta. Risco este que se expande também a população humana que vive em áreas de domínio da Mata Atlântica e que depende de seus serviços ambientais como o abastecimento hídrico, o equilíbrio climático, a segurança alimentar, seu suporte cultural e vários outros benefícios.

* Professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade Federal de Viçosa

Bioprospecção

A atividade de bioprospecção é definida como a pesquisa sistemática para a busca de compostos químicos, genes, micro e macrorganismos e outros produtos naturais disponíveis para seu potencial uso nas indústrias farmacêutica, agrícola e biotecnológica, de forma a obter novos produtos e processos que apresentem elevado valor comercial.

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A atividade de bioprospecção é definida como a pesquisa sistemática para a busca de compostos químicos, genes, micro e macrorganismos e outros produtos naturais disponíveis para seu potencial uso nas indústrias farmacêutica, agrícola e biotecnológica, de forma a obter novos produtos.

Espaço Ciência

Toda esta diversidade de plantas das florestas tropicais ainda é pouco conhecida pelos pesquisadores.
Dados recentes indicam que menos de 1% dessas espécies vegetais foram investigadas cientificamente no campo da medicina.

Neste universo, várias moléculas presentes nestas plantas são totalmente desconhecidas do ponto de vista da química e quanto ao seu potencial como fármaco ou outros produtos de interesse para a sociedade.

BioPESB

Programa de Bioprospecção e Uso Sustentável dos Recursos Naturais da Serra do Brigadeiro


O Programa envolve vários projetos do grupo de pesquisa também intitulado BioPESB, reconhecido pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) do Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil. O BioPESB reúne pesquisadores e extensionistas de diferentes áreas da ciência que atuam, de forma conjunta, no campo da bioprospecção e uso sustentável dos recursos naturais de áreas remanescentes da Mata Atlântica local.

Além da importância de se estudar a biodiversidade da Mata Atlântica, o fato de as pesquisas do BioPESB serem focadas na região da Serra do Brigadeiro, com delimitações geográfica e sócio-demográfica do espaço de atuação, se deve a criação de uma relação de compromisso e confiança entre os atores envolvidos, contribuindo para a gestão integrada das atividades.

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